Quando voltei do Exército, a minha esposa e eu fomos para a universidade para terminar os nossos estudos. Nessa época, passei a atuar também na comunidade e fui convidado a assumir a posição de conselheiro de um posto de exploração da organização de escoteiros mirins. Estava muito entusiasmado com essa nova oportunidade e, uma noite, reuni-me com os garotos. Pensava, então, nas grandes coisas que faríamos e nos objetivos que estabeleceríamos. Quando entrei na sala, porém, vi-me diante dos adolescentes mais “transados” que você possa imaginar.
A linguagem corporal deles falava bem alto, dizendo: "Você que se atreva a me ensinar alguma coisa!"
Pensei comigo mesmo enquanto entrava: "Minha nossa, preciso estar pronto para o que der e vier". E estava certo. Eu me apresentei:
- Olá, sou o seu novo conselheiro de exploração.
Pensei que ficariam entusiasmados, mas não ficaram. Então eu disse:
- Falarei um pouco sobre mim. Sou Hyrum Smith. Fui criado no Havaí, que é um lugar incrível. - Falei algumas coisas sobre o Havaí e depois perguntei: - Vocês gostariam de ir ao Havaí no ano que vem? Ganharemos o dinheiro juntos e mostrarei a vocês o que fazer. Montaremos um projeto juntos e depois passaremos duas semanas no Havaí. - E depois descrevi o quadro para eles: - Nadaremos no mar, visitaremos o Centro Cultural da Polinésia e visitaremos Pearl Harbor.
O silêncio era total. Nenhuma reação. Finalmente, tive de perguntar:
- Isso interessa a vocês? Gostariam de viajar para o Havaí?
Finalmente, um deles se mexeu. Atirou-se para a frente em sua cadeira e disse:
- Claro! E no ano seguinte iremos para a lua.
E todos eles riram. Não foi uma boa experiência. Fui falar com o ex-instrutor deles:
- Não acredito numa coisa dessas. Ofereci uma viagem ao Havaí para esses garotos. A classe toda caiu na risada.
Ele se dobrou no chão em gargalhadas. Achou a coisa mais engraçada que já ouvira. E disse:
- Hyrum, há uma coisa que você precisa entender. Nos últimos seis meses esses garotos tiveram cinco conselheiros de exploração. Cada um entrava oferecendo uma grande viagem. Nada tão ambicioso como o Havaí, não se preocupe, mas nenhuma dessas viagens se realizou. Quando você entrou lá e lhes ofereceu o Havaí, eles não acreditaram.
Pensei naquilo durante uma semana. Quando chegou o momento da segunda reunião, entrei pela porta e, quando os olhei, parecia que não tinham saído do lugar desde a semana anterior. Coloquei-me em frente deles e disse:
- Escutem aqui, garotos, na semana passada eu lhes ofereci uma viagem para o Havaí. Vocês não ficaram muito entusiasmados com a perspectiva, mas vou lhes dizer uma coisa. No próximo verão, eu e minha esposa vamos para o Havaí. Quer vocês venham ou não conosco, não dou a mínima. Entenderam? Não dou a mínima. Se quiserem vir, a decisão será de vocês.
Bem, eles começaram a se mexer. Um deles disse:
- Você está falando serio.
Um outro disse:
- O que temos de fazer? Você precisa falar para nós exatamente o que precisamos fazer.
E eu disse:
- A primeira coisa que vocês farão é memorizar um poema.
Isso os deixou muito entusiasmados.
- Vocês terão de guardá-lo na memória - eu disse. - A passagem para vocês entrarem naquele avião será declamar este poema, sem nenhum erro, à comissária de bordo.
E então eu os fiz memorizar as seguintes frases do poema "Will" ("Vontade"), de Ella Wheeler Wilcox:
There is no chance, no destiny, no jate, that cara circumvent or hinder or control the firm resolve of a determined soul.
* Nenhum acaso, nenhum destino, nenhuma sina / pode enredar ou impedir ou controlar / a firme resolução de um espírito determinado (N. da T).
Bem, eles acharam aquilo ótimo. Não conseguiam entender metade das palavras. "Você quer que o decoremos? Nós o decoraremos." Durante os 11 meses seguintes, todas as quartas à noite, eles tinham de se levantar e repetir aquelas mesmas frases. Durante aquele período, iniciamos o que se tornaria 29 grandes projetos para angariar fundos. Em cerca de 60 dias, descobrimos que não havia apenas 5 exploradores `transados', mas 17. Os outros garotos tinham acabado de sair da carpintaria.
- Presumo que vocês também vão para o Havaí.
- O que preciso fazer para ir?
- Precisa aprender um poema.
- Um poema? Você deve estar brincando!
Dezessete exploradores. Transformamos aqueles garotos nos melhores vendedores que a cidade já conheceu. Vendemos abotoaduras, guirlandas de Natal, extintores de incêndio, doces, uma vaca. Vendemos até o barco
de um sujeito - e lhe contamos sobre a venda no dia seguinte.
Na metade do período, estávamos um pouco aquém das projeções financeiras. Perto da universidade havia um velho e enferrujado trator de terraplanagem D-9 da Caterpillar, e fomos contatar o dono. A máquina estava lá havia já 12 anos.
- Gostaríamos de ficar com seu trator - dissemos a ele. - O que farão com ele?
- Vamos vendê-lo.
- Lógico que vão. Faz 12 anos que venho tentando vender essa coisa. Está quebrado. Ninguém compra.
- Se você nos der o trator, nós venderemos.
- Acredite, Hyrum, ninguém comprará.
Ensinei o poema a ele. Ele nos deu o trator. Contatamos então um outro sujeito que trabalhava no ramo de solda. - Sabemos que o senhor pode cortar aço. - Posso. O que vocês têm aí?
- Temos aquela coisa enorme. Precisamos cortá-lo em pedaços pequenos.
- O que é aquilo? - ele perguntou. - Um trator de terraplanagem.
- Ninguém corta uma máquina dessas.
Ensinamos o poema para ele. Ele trouxe o seu equipamento de corte. Levou quatro semanas, mas conseguiu reduzi-lo a pedaços bem pequenos.
Os garotos colocaram todos os pedaços dentro de um caminhão-tanque emprestado. Nove viagens. Levamos tudo para uma siderúrgica, vendemos o material como sucata e conseguimos um lucro líquido de 800 dólares.
Os meninos começaram a acreditar nas palavras do poema. Durante aquele ano, pensei que seria ótimo se os garotos pudessem patrocinar um concerto realmente de classe. Então contatei Reid Nibley, um dos melhores pianistas do país (que por coincidência morava nas proximidades). Bati em sua porta e disse:
- Mr. Nibley, o senhor não sabe quem eu sou, mas eu sei quem é o senhor, e tenho 17 escoteiros mirins que nunca viram um concerto de piano de primeira classe. Gostaríamos de saber se o senhor estaria disposto a fazer um concerto beneficente para nós. Vamos para o Havaí no próximo verão.
Ele simplesmente riu e disse:
- Não faço concertos beneficentes para ninguém. Estou sob contrato. Não posso fazê-lo.
- Se quisesse, o senhor poderia - eu disse. Caminhamos bastante
tempo e ele começou a ficar intrigado com aqueles 17 garotos que iriam para o Havaí. Ensinei-lhe o poema.
Deve ter exercido um grande impacto sobre ele, pois disse:
- Vou lhe dizer uma coisa: se não contar para ninguém, darei o concerto para vocês.
- Só contarei para as pessoas que comprarem os ingressos. - Negócio fechado.
Ele ficou muito entusiasmado com aquilo. Dirigiu-se ao primeiro
violino da Utah Symphony, Perry Kalt, e disse:
- Escute, aqueles garotos vão para o Havaí. Que tal você vir comi
go e fazermos um concerto de primeira classe para piano e violino? Percy Kalf ficou animado, e concordou.
Saímos a campo, vendemos as entradas e levantamos 750 dólares com
aquele concerto.
Dois meses antes da viagem, coloquei mais uma exigência:
- Para entrar naquele avião, vocês precisam estar todos uniformizados. - Hyrum, usar uniforme não é legal.
- Para entrar naquele avião, vocês precisam estar todos uniformizados.
E os uniformes começaram a surgir.
Finalmente chegou o dia da viagem. Eles haviam ganhado mais de oito mil dólares. Não pediram um centavo para os pais. Falando sobre as zonas de conforto: fiquei um semestre atrasado na faculdade, mas foi ótimo. Chegamos no aeroporto, e a aparência deles era excelente. Uniformes novinhos em folha, paletós vermelhos de explorador. Uma das mães bordara os nomes em letras douradas. Quando o primeiro garoto entrou naquele avião da United Airlines, entregou o bilhete à comissária de bordo e disse:
- "Nenhum acaso, nenhum destino, nenhuma sina pode enredar ou impedir ou controlar a firme resolução de um espírito determinado." Não é um poema incrível?
- Sim, é incrível, garoto.
Por 17 vezes ela ouviu aquele poema. Minha esposa e eu éramos os últimos da fila. A comissária disse:
- Esperem! Deixe-me declamar um poema: "Nenhum acaso, nenhum destino, nenhuma sina..."
Ela o declamou inteiro. Eu disse:
- Não é um poema incrível?
E ela respondeu:
- Sim, e estamos atrasados meia hora. Vocês se importariam de partir?
Decolamos de San Francisco num 747. Aqueles garotos nunca tinham estado num avião. Afastamo-nos da costa e o capitão disse no altofalante:
- Senhoras e senhores, temos um garoto na cabine. Ele se recusa a sair se não puder lhes declamar um poema.
Passamos duas semanas maravilhosas no Havaí. Surfamos, visitamos Pearl Harbor. Quase afoguei dois deles; um eu não tentei salvar, mas de qualquer forma ele sobreviveu.
Para mim, a experiência mais excitante da viagem foi quando os nossos exploradores se encontraram com um grupo de oito exploradores do estado de Nevada. Estes eram do tipo `transado': não usavam uniforme e tinham as camisas abertas no peito. Acharam o meu grupo meio estranho. Mas finalmente um dos meus garotos fez a pergunta:
- Como vocês conseguiram ganhar esta viagem?
A resposta:
- O que quer dizer, com ganhar a viagem, cara? Nossos pais perguntaram se queríamos vir ao Havaí para se livrar da gente por uma semana, e então nós viemos. Nenhum golpe.
O que aconteceu depois foi impagável. Os meus 17 garotos cercaram os oito de Nevada e disseram:
- O que querem dizer? Não foram vocês que ganharam a viagem? Pois vamos contar como nós chegamos aqui.
E contaram tudo, tintim por tintim.
Isso foi em 1970, e não perdemos contato com os garotos ao longo dos anos. O que fizeram das suas vidas é incrível. Naquele ano, aprenderam algo sobre caráter e determinação, e a lição criou raízes e brotou, amadureceu e frutificou nas suas vidas.
Vinte anos mais tarde, levamos aqueles garotos - agora homens adultos - e as suas esposas de volta para o Havaí para uma reunião. Nem todos puderam ir, mas a maioria deles compareceu. Foi uma experiência emocionante quando, no jantar que fizemos em Honolulu, cada um deles se levantou e repetiu o poema mais uma vez. Naquela noite passamos quatro ou cinco horas juntos e eles nos contaram o que fizeram com a sua vida nos últimos vinte anos. Foram momentos muito gratificantes. Eles tinham aprendido uma idéia maravilhosa, simples, mas muito poderosa: quando você fizer o que for necessário, nada mais atravessará o caminho dos seus objetivos.
No meu entender, o que esta lei natural diz em resumo é que eu não posso dar a você a determinação de que você precisará para deixar a sua zona de conforto e efetivamente atingir seus objetivos. Eu não poderia dá-Ia aos meus 17 exploradores. A determinação precisa vir de dentro de você. Se você não for ou não se tornar uma pessoa determinada, não obterá controle sobre o seu tempo e a sua vida e não experimentará a paz interior de que falamos e que está disponível para todo aquele que aplicar estas leis naturais. Se, todavia, você estiver determinado a atingir a excelência, a chegar à paz interior através da identificação dos seus valores, do estabelecimento de objetivos e da disposição de se afastar das suas zonas de conforto e controlar os eventos que fazem o seu dia-a-dia, nada poderá detê-lo.
Do Livro Gerencie sua vida – autor Hyrum Smith