Compromisso não Cumprido


Dona Miriam quase poderia considerar-se uma mulher realizada e feliz: espírita consciente, participante de obras assistenciais, três filhos íntegros e carinhosos, quatro netos adoráveis, idéias lúcidas, saúde boa, situação financeira estável... O único problema era a "cruz" que carregava no lar: seu marido.
Existia, latente, um profundo desentendimento entre eles, que eclodia, vezes inúmeras, em atritos e discussões acaloradas que, não raro, desciam ao nível da agressividade.
Não que fosse má pessoa. Era um homem até generoso, bom pai, caseiro, sem vícios, mas gênio difícil, um tanto impertinente, "qualidades" que, para Dona Miriam, pareciam desenvolver-se na medida em que ele envelhecia.
-- Só o Espiritismo me dá forças para "agüentar" o Gumercindo - Proclamava, enfática. - Quero estar com ele até o fim, cumprindo meu compromisso. Então estarei livre! - Junto, nunca mais!
Assim foi até sua morte, após 48 anos de convivência difícil. De retorno à Espiritualidade, já integrada na Vida Maior, Dona Miriam analisava, com generoso mentor, seus sucessos na vida física
-- Minha filha - dizia-lhe, gentil - você levou existência proveitosa, foi diligente mãe de família, batalhadora nas lides espíritas, servidora da Caridade... Traz bela bagagem de realizações... Mas tem um problema grave, um compromisso não cumprido: seu marido
-- Como? - interrompeu a senhora com estranheza - Não fui fiel aos deveres matrimoniais? Não o suportei estoicamente, durante quase meio século?!
-- Esse é o seu problema: você o suportou apenas! No entanto, seu compromisso era bem diferente. Deveria harmonizar-se com ele, superando antigas mágoas remanescentes de convivência anterior. Adotando a postura de quem carregava pesada cruz, você anulou qualquer possibilidade de aproximar-se dele, ajudando-o a superar suas idiossincrasias com a força da amizade. Faltou-lhe, minha filha, o exercício da caridade que silencia, que perdoa, que não guarda ressentimentos, que supera desavenças. E ele precisava muito de sua compreensão. É uma alma perturbada e neurótica, não obstante suas virtudes. Como você de certa forma contribuiu para que ele se tornasse esse homem, em face de influências perversas e negativas que você exerceu sobre seu Espírito em outras vidas, num passado não muito distante, não vejo outra solução para o problema senão uma nova união entre vocês, em existência futura, repetindo as lições do matrimônio, até que aprendam a conviver pacificamente.
Após o encantamento do início, fatalmente surgem dificuldades de relacionamento na vida conjugal, na Terra, aprendizes insipientes na arte de conviver.
No entanto, aqueles que atravessam o casamento a "ranger os dentes", como se submetidos a intolerável prisão, forçosamente reencontrarão o cônjuge em novas experiências matrimoniais, presos um ao outro por algemas de ressentimento, mágoa, aversão...
Somente quando, os elos do casamento estiverem formados por flores de amizade, desfrutarão os cônjuges a liberdade de decidir se seguirão juntos nos caminhos do porvir.
Livro: "Atravessando a Rua"

Richard Simonetti

20 ANOS CEGO


Há muito tempo atrás, um casal de idosos que não tinham filhos, morava em uma casinha humilde de madeira, tinham uma vida muito tranqüila, alegre, e ambos se amavam muito.

Eram felizes. Até que um dia...
Aconteceu um acidente com a senhora.
Ela estava trabalhando em sua casa
quando começa a pegar fogo na cozinha
e as chamas atingem todo o seu corpo.

O esposo acorda assustado com os gritos e vai a sua

procura, quando a vê coberta pelas chamas e

imediatamente tenta ajudá-la.

O fogo também atinge seus braços e,
mesmo em chamas,
consegue apagar o fogo.

Quando chegaram os bombeiros
já não havia muito da casa,
apenas uma parte, toda destruída.

Levaram rapidamente o casal para o hospital mais próximo,
onde foram internados em estado grave.
Após algum tempo
aquele senhor menos atingido pelo fogo
saiu da UTI e foi ao encontro de sua amada.

Ainda em seu leito a senhora toda queimada,
pensava em não viver mais,
pois estava toda deformada,
queimara todo o seu rosto.

Chegando ao quarto de sua senhora, ela foi falando:

-Tudo bem com você meu amor?

-Sim, respondeu ele,
pena que o fogo atingiu os meus olhos
e não posso mais enxergar,
mas fique tranqüila amor
que sua beleza está  gravada em meu coração para sempre.

Então triste pelo esposo, a senhora pensou consigo mesma:

"Como Deus é bom,
vendo tudo o que aconteceu a meu marido,
tirou-lhe a  visão para que não presencie esta deformação em mim.
As chamas queimaram todo o meu rosto
e estou parecendo um monstro.
E Deus é tão maravilhoso que não deixou ele me ver assim,
como um monstro
Obrigado Senhor!"

Passado algum tempo e recuperados milagrosamente,
voltaram para uma nova casa,
onde ela fazia tudo para o seu querido e amado esposo,
e o esposo agradecido por tanto amor,
afeto e carinho,
 todos os dias dizia-lhe:

-COMO EU TE AMO.
Você é linda demais.
Saiba que você é e será sempre,
a mulher da minha vida!

E assim viveram mais  20 anos até que a senhora veio a falecer.
No dia de seu enterro,
quando todos se despediam da bondosa senhora,
veio aquele marido com os olhos em lágrimas,
sem seus óculos escuros
e com sua bengala nas mãos.

Chegou perto do caixão,
beijou o rosto acariciando sua amada, disse em um tom apaixonante:

-"Como você é linda meu amor, eu te amo muito".

Ouvindo e vendo aquela cena
um amigo que esta ao seu lado
perguntou se o que tinha acontecido era milagre.
Pois parecia que o velhinho parecia enxergar sua amada.

O velhinho olhando nos olhos do amigo,
apenas falou com as lágrimas rolando quente em sua face:

-Nunca estive cego,
apenas fingia,
pois quando vi minha amada esposa toda queimada e deformada,
sabia que seria duro para ela continuar vivendo daquela maneira.
Foram vinte anos vivendo muito felizes e apaixonados!
Foram os 20 anos mais felizes de minha vida.

E emocionou a todos os que ali estavam presentes.


CONCLUSÃO

Na vida temos de provar que amamos!
Muitas vezes de uma forma difícil ...
E, para sermos felizes,
temos de fechar os olhos para muitas coisas,
mas o importante é que se faça única e intensamente com AMOR!

Patrimônio Inútil


Livro: Luzes no Caminho
Richard Simonetti


    Conta Esopo (século VI a.C.), que um homem extremamente zeloso de seus haveres, decidido a resguardar-se de qualquer prejuízo, tomou radical providência:

    Vendeu todos os seus haveres e comprou vários quilos de ouro que fundiu numa única barra.

    Em seguida, enterrou-a em mata cerrada.

    À noite, solitário e esquivo, contemplava, em êxtase, seu tesouro.

    Algo de tio Patinhas, o milionário sovina das histórias em quadrinhos, que se deleita mergulhando num tanque cheio de moedas.

    Um dia foi seguido por amigo do alheio.

    Quando se afastou, após a adoração rotineira, o gatuno desenterrou o ouro e escafedeu-se.

    O avarento quase enlouqueceu, tamanho o seu desespero.

    Um vizinho, ao saber do fato, ponderou:

    – Não sei por que está tão transtornado! Afinal, se no lugar do ouro estivesse uma pedra seria a mesma coisa. Aquela riqueza não tinha nenhuma serventia para você…

    ***

    Difícil encontrar na atualidade pessoas dispostas a enterrar seus haveres.

    Raras os têm sobrando.

    Além disso, seria correr risco inútil.

    As instituições financeiras guardam com segurança nosso dinheiro. Até produzem rendimentos, sem surpresas desagradáveis, salvo quando têm o mau gosto de quebrar, por incompetência ou corrupção.

    Não obstante, muita gente costuma enterrar um bem muito mais precioso, uma riqueza inestimável – a existência.

    Se nos dermos ao trabalho de analisar a jornada terrestre, com suas abençoadas possibilidades de edificação, perceberemos como é valiosa.

    Traz-nos inúmeros benefícios:

        * O esquecimento do passado ajuda-nos a superar paixões e fixações que precipitaram nossos fracassos.
        * A convivência com desafetos transmutados em familiares favorece retificações e reconciliações indispensáveis.
        * O contato com companheiros do pretérito, nas experiências do lar e na atividade social, estreita os laços de afetividade.
        * A armadura de carne inibe as percepções espirituais, minimizando a influência de adversários desencarnados.
        * As necessidades do corpo induzem à bênção do trabalho.
        * O esforço pela subsistência desenvolve a inteligência.
        * As limitações físicas refreiam os impulsos inferiores.
        * As enfermidades depuram a alma.
        * As lutas fortalecem a vontade.
        * A morte impõe oportuno balanço existencial, sinalizando onde estamos, na jornada evolutiva.

    ***

    No entanto, à semelhança do unha-de-fome de Esopo, muita gente troca o tesouro das oportunidades de edificação por uma barra luzente de efêmeras realizações, cuidando apenas de seus interesses, de seus negócios, de suas ambições…

    Quando tudo corre bem, há os que se deslumbram com essa “riqueza”, como aquele lavrador da passagem evangélica:

    Construiu grandes celeiros, guardou neles toda a sua produção e proclamou para si mesmo (Lucas, 12:18-20):

    – Tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te…

    Mas Deus lhe disse:

    – Insensato, esta noite pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?

    Exatamente assim acontece com aquele que se apega às ilusões humanas, buscando realizações de brilho efêmero.

    Um dia vem o indefectível ladrão – a morte –, e lhe rouba o corpo.

    Indigente na vida espiritual, desespera-se.

    Chora, inconformado.

    Recusa-se a aceitar a nova situação.

    Esopo lhe diria:

    – Por que o lamento? Houvesse você estagiado nas entranhas de uma pedra e o resultado seria quase o mesmo. A experiência humana pouco lhe serviu!

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