“Chapéu violeta”, por Mário Quintana

“Chapéu violeta”, por Mário Quintana


Aos 3 anos: Ela olha pra si mesma e vê uma rainha.

Aos 8 anos: Ela olha para si e vê Cinderela.

Aos 15 anos: Ela olha e vê uma freira horrorosa.

Aos 20 anos: Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo.

Aos 30 anos: Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito magra, muito alta, muitobaixa, muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo pra consertar então vai sair assim mesmo.

Aos 40 anos: Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim.

Aos 50 anos: Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai pra onde ela bem entender.

Aos 60 anos: Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo.

Aos 70 anos: Ela olha para si e vê sabedoria, risos, habilidades, sai para o mundo e aproveita a vida.

Aos 80 anos: Ela não se incomoda mais em se olhar. Põe simplesmente um chapéu violeta e vai se divertir com o mundo.

Talvez devêssemos por aquele chapéu violeta mais cedo!

Mário Quintana




As três deusas - Tagore

"Foi no pomar de ilusões - faz tanto tempo ! - Que as ouvi conversar.
A terra sorria flores e o sol cantava luz !
Eram três grácies deusas, a murmurar :

- Eu sou a esteira de luz que conduz à felicidade o homem que por mim caminha !
- disse a primavera.

E da grande caneleira que as guardava na sua sombra, miúdas flores no chão caíram, embalsamando o ar...

- Eu sou o estímulo, que conduz o homem que por ti caminha !
- sorrindo a outra respondeu

E um vento brando, penteando o campo, trouxe o perfume do longínquo bosque florido e embalsamou o ar...

- Eu sou a felicidade, a própria vida, o paraíso, aonde o homem deseja chegar !
- falou a derradeira.

E as folhas, derramando música, vestiram de uma sonata de amor o meu pomar de ilusões, onde eu as ouvi falar...

De olhos fechados, deslumbrado, quedei-me a meditar !

E quando franjas de prata caíram sobre o mar, e o rócio do anoitecer me despertou, eu compreendi...

As deusas que vieram ao meu pomar, eram a
Fé, a CARIDADE e a ESPERANÇA !"


- R. Tagore-